Conheça o Safiel: o projeto que quer transformar o Corinthians na primeira SAF controlada pela própria torcida
Iniciativa propõe descentralizar o poder e profissionalizar a gestão alvinegra com aportes diretos de torcedores-investidores.

São Paulo, SP, 10, (AFI) – Nos últimos anos, o modelo SAF se espalhou pelo futebol brasileiro com a promessa de modernizar a gestão e sanar dívidas históricas. Botafogo, Cruzeiro, Vasco e tantos outros cederam seus destinos a investidores privados — alguns com resultados animadores, outros nem tanto. No Corinthians, porém, o debate sobre SAF é diferente: mais inflamado, mais ional e mais… político.
Afinal, como conciliar o modelo empresarial com o estatuto que define o clube como “do povo”? Como aceitar que um único empresário controle o Parque São Jorge por décadas, como defende parte da Gaviões da Fiel, sem trair o espírito fundacional do Timão?
É nesse vácuo — entre a rejeição à privatização e a necessidade urgente de reestruturação — que surge o Safiel, um projeto que tenta ser “o meio termo impossível”: uma SAF popular, com capital pulverizado entre torcedores, mas com gestão profissionalizada.
A IDEIA
Liderado pelo empresário da área de tecnologia Carlos Teixeira, o projeto reúne ainda nomes como Maurício Chamati (fundador do Mercado Bitcoin), o advogado Eduardo Salusse e o publicitário Lucas Brasil. A proposta é ousada: transformar o futebol do Corinthians em uma empresa, com participação direta da torcida, mas sem que um único dono assuma o controle.
Na prática, os torcedores comprariam cotas de investimento no clube, com valores que variam entre R$ 2.500 e R$ 10 milhões, em diferentes categorias. Há até uma modalidade de R$ 50 para sócios de torcidas organizadas. E não é doação — como na campanha “Doe Arena Corinthians” —, mas investimento com expectativa de retorno.
“Não é caridade, é oportunidade”, repete Teixeira, ao apresentar a Safiel como uma chance de democratizar o capital do clube e profissionalizar a gestão sem vender a alma.
POVO NO PODER
O projeto prevê uma estrutura de três camadas:
- Torcedores-investidores (os donos);
- Conselhos de istração e Fiscalização (escolhidos por cotistas e sócios do clube social);
- CEO profissional, que atuaria como presidente executivo do futebol.
Ou seja, o torcedor não mandaria diretamente no dia a dia, mas teria representantes nos conselhos, dividindo poder com os associados do clube social. Um equilíbrio delicado, e que exigiria, antes de tudo, mudança no estatuto corinthiano, o que por si só já é um campo minado político.
Teixeira argumenta que, com esse modelo, o clube teria transparência, profissionalismo e autonomia financeira, além de resolver gargalos históricos como a dívida com a Caixa pela Neo Química Arena.
SONHO OU DEVANEIO
A projeção do Safiel é que, em cinco anos, o clube possa abrir capital na Bolsa de Valores e dobrar o valor investido por quem comprou cotas. Seria o Corinthians se transformando no “Bayern de Munique das Américas”, nas palavras do próprio CEO do projeto.
Mas para isso, uma série de variáveis teria de dar certo:
- A torcida precisaria abraçar o projeto;
- A base política do clube teria de ceder espaço;
- A gestão teria de ser impecável por cinco anos;
- E a dívida, de quase R$ 1,7 bilhão, teria de ser equacionada.
É possível? Tecnicamente, sim. Provável? Difícil. O risco de virar um “case de PowerPoint” é enorme — e o Corinthians já viu muitos deles nos últimos anos.
Além disso, não está claro quem regula, fiscaliza ou responde caso o projeto naufrague. E se a expectativa de valorização das cotas não se confirmar? E se a captação não atingir a meta mínima? O próprio projeto ite que o dinheiro do torcedor só é utilizado após formal. Até lá, fica sob custódia de um banco. Mas depois disso, o risco é total — inclusive de perda integral do investimento.
CORINTHIANS DE TODOS
A Safiel é, no mínimo, provocadora. Coloca em pauta uma alternativa à venda pura e simples do clube a um investidor bilionário, propondo um caminho em que o Corinthians pertence, de fato, à Fiel.
Mas entre a boa intenção e a realidade, existe um abismo de complexidade política, jurídica e financeira. Em um clube que mal consegue aprovar uma reforma istrativa sem protesto, é difícil imaginar a base associativa permitindo tamanha revolução.
Ainda assim, a ideia está no ar. A Fiel quer mandar no Corinthians. E, pela primeira vez, há um projeto que transforma esse grito de arquibancada em modelo de negócio. Se vai sair do papel ou não, é outra história.